Devemos celebrar o Ano Novo ʻSecularʼ?
Por Shaʼul Bentsion
I - Introdução
" Desde os primórdios, as Escrituras nos advertem a não adotarmos os costumes de
povos pagãos, e nos diz que devemos nos abster de práticas cuja origem esteja na
idolatria:
“Quando entrares na terra que YHWH teu Elohim te der, não aprenderás a fazer conforme
as abominações daquelas nações.” (Devarim/Deuteronômio 18:9)
“Assim diz YHWH: Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis dos sinais
dos céus; porque com eles se atemorizam as nações. Porque os costumes dos povos são
vaidade” (Yirmiyahu/Jeremias 10:2-3)
" Aos israelitas que servem ao Mashiach Yahushua, Shaʼul (Paulo) devem se manter
distantes das práticas pagãs:
“Que harmonia há entre o Mashiach e Beliyaʼal? Ou que parte tem o que crê com o que
não crê? E que consenso tem o Beit HaMikdash de Elohim com demônios? Pois nós
somos Beit HaMikdash do Elohim vivo, como Elohim disse: Neles habitarei, e entre eles
andarei; e eu serei o seu Elohim e eles serão o meu povo. Pelo que, saí vós do meio
deles e separai-vos, diz YHWH; e não toqueis coisa imunda, e eu vos receberei.”
(Curintayah Beit/2 Coríntios 6:14)
" Tendo isso em mente, qual deve ser a posição de um seguidor de Yahushua quanto à
celebração do Ano Novo? Quando o assunto é a celebração de uma festa de cunho
claramente religioso, tal como Natal e a Páscoa Romana, tem-se relativa clareza. Porém,
o que dizer dessa festividade aparentemente secular? É lícito um seguidor de Yahushua
participar dela?
" Este artigo tem por objetivo investigar as origens e a evolução das práticas dessa
festa, a fim de responder a esse questionamento.
II - A Festividade nos Tempos Antigos
" A origem das celebrações do Ano Novo têm origem muito anterior ao Ano Novo
propriamente dito, e começaram com as festividades de inverno do império romano do
solstício de inverno: Nos tempos mais antigos a Brumália e, posteriormente, a Saturnália.
" Essas celebrações revolviam em torno do dia 25 de dezembro, date teórica do
solstício de inverno, e tinham seu fim justamente com a Calendae no dia primeiro de
janeiro, mês romano que celebrava o deus Janus. O primeiro dia do reinado do deus
Janus indicava justamente o final das festividades de inverno.
" A conexão profunda entre Janus e as festividades de inverno é descrita por
Macrobius, filósofo e escritor romano que viveu entre os séculos 4 e 5 DC, escreve sobre
a mitologia em torno da celebração da Saturnália:
“Foi durante o seu reinado que Saturno subitamente desapareceu, e Janus então
estabeleceu uma forma de acrescentar às suas honras. Primeiro ele deu o nome Saturnia
a toda a terra que reconhecia o seu governo; e então ele edificou um altar, instituindo ritos
como os para um deus e chamou esses ritos de Saturnália - o que demonstra que esse
festival é muito mais antigo do que a cidade de Roma. E foi porque Saturno melhorou as
condições de vida que, por ordem de Janus, honras religiosas foram dadas a
ele.” (Saturnália 1:7:24)
" Portanto, o dia primeiro de janeiro, muito antes de seu estabelecimento como Ano
Novo, já era um dia de grande festividade para os pagãos.
III - O Imperador Muda o Calendário
" No século 1 AC, Julio César mudou o calendário romano, fazendo com que o fim
dessas festividades - que eram as mais importantes do império - coincidisse exatamente
com o princípio do ano.
" Chris Armstrong, professor de História Eclesiástica, narra o episódio da seguinte
forma, em um artigo para a revista Christian History:
" “Como outros festivais cristãos, a celebração do Dia de Ano Novo no oeste
começou antes da igreja vir a existir.
" Inicialmente, os romanos celebravam o ano novo no dia
primeiro de março, e não no dia primeiro de janeiro. Julio César
instituiu o Dia de Ano Novo em primeiro de janeiro para honrar
Janus, o deus de duas-faces que olhava para trás, para o ano
antigo, e para frente, para o novo. O costume das ʻresoluções de
ano novoʼ começou no período mais antigo, com os romanos
fazendo resoluções de cunho moral: basicamente, de serem
bondosos uns para com os outros.”
(Chris Armstrong, “Resolutions Worth Keeping”)
" Acima, pode-se ver uma imagem de Janus, com suas características duas faces,
que é parte de uma coleção do museu do Vaticano.
IV - Em Substituição à Torá
" Mesmo nos primórdios do Cristianismo, no final do século 2 e início do século 3, a
prática já era amplamente realizada, ao ponto de ser condenada por alguns dos
chamados “pais da igreja”, como Tertuliano, que afirmava:
"Mas para nós, a quem os Shabatot são estranhos, assim como o rosh chodesh e as
festas amadas por Elohim, a Saturnália, os festivais de Ano Novo e meio do inverno e a
Matronália são frequentados…” (Tertuliano, “Sobre a Idolatria”, cap. 14)
" Como podemos ver, os primeiros cristãos abandonaram a prática bíblica das festas
de Elohim, e em seu lugar adotaram festas pagãs, como a celebração do Ano Novo de
Janus.
V - Da Calendae à Festa da Circuncisão
" Como se sabe, a Igreja Romana se apropriou da data do solstício de inverno, data
que celebrava o Natalis Solis Invicti (Natal/Nascimento do [deus] Sol Invicto), para
proclamar o nascimento de seu ídolo sincrético, um substituto distorcido e adulterado do
Mashiach (Messias) das Escriturs.
" Todavia, ao fazer uso de tal data, um dado curioso aconteceu. Como todo judeu,
Yahushua foi circuncidado ao oitavo dia, conforme determina a Torá:
“O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto
o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua
estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu
dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua.”
(Bereshit/Gênesis 17:12-13)
" Porém, sabe-se pelo relato das Escrituras, que Yahushua nasceu por volta da ocasião
da festa de Sukot (Tabernáculo), isto é, por volta do mês de setembro no calendário civil
da atualidade. A escolha da data de 25 de dezembro tem sua razão unicamente no
sincretismo religioso com o paganismo do culto ao deus-sol, altamente popular em Roma
desde o início do século 2. Os pagãos, conforme atestam alguns autores como Arnóbio
de Sica (século 4), tinham por hábito celebrarem o aniversário de seus deuses, algo
totalmente estranho à prática das Escrituras - o que está na origem da escolha de tal
data, que celebrava o nascimento do deus-sol invicto.
" Coincidentemente, a Calendae, rebatizada por Julio César de “Ano Novo”, ocorria
oito dias depois do solstício de inverno. Sendo assim, muitos séculos depois, a Igreja
Romana passou a alegar que a Calendae seria na realidade a “Festa da Circuncisão”,
uma festa que marcaria a data da circuncisão do ídolo substituto do Mashiach (Messias)
bíblico, e que, como tal, determinaria a “morte do Judaísmo” e o “nascimento de uma
nova religião, o Cristianismo.”
" Sobre a prática da Festa da Circuncisão, Chris Armstrong relata ainda:
" “Quando Roma tomou o Cristianismo como sua fé oficial, os cristãos passaram a
guardar o Dia de Ano Novo... No início do século sexto, partes da igreja começaram a
guardar o dia primeiro. de janeiro como a Festa da Circuncisão, comemorando a
circuncisão de Jesus... Mas os pagãos aparentemente arruinaram o primeiro de janeiro
para muitos cristãos: a igreja romana não aceitou esse dia de festa até o século 11.” (ibid)
" Seria irônico, se não fosse trágico, que a circuncisão, momento que indica a
primeira mitsvá (mandamento) à qual se submete um menino israelita recém-nascido,
fosse tomada como sincretismo para uma festa de absoluta iniquidade. Sobre ela, a
Enciclopédia Católica afirma:
" “Na época do paganismo, contudo, a solenização da festa [da circuncisão de
Jesus] foi praticamente impossível, em razão das orgias associadas às festividades da
Saturnália, que eram celebradas no mesmo período. Até hoje, as características seculares
da abertura do Ano Novo interferem com a observância religiosa da [festa da] circuncisão,
e tendem a tornar um mero feriado aquilo que deveria ter sido a natureza sagrada do Dia
Santo.” (Catholic Encyclopedia, “Feast of Circumcision”)
VI - O Dia da Brutalidade contra os Judeus
" A origem e práticas pagãs em torno dessa celebração já seriam, por si só,
suficientes para a rejeitarmos sumariamente. Todavia, a iniquidade não para por aí.
" A data de primeiro de janeiro também era celebrada entre os católicos como uma
data de atos de barbárie contra os judeus. A barbárie teria início ainda antes mesmo do
nascimento de Yahushua. Sobre isso, o artigo “The History/Origin of New Years Day”, da
publicação “US News & World Report” afirma:
" “Em 46 AC, o imperador romano Julio César foi o primeiro a estabelecer a data de
primeiro de janeiro como dia de Ano Novo. Janus era o deus romano das portas e
portões, e tinha duas faces, uma que olhava para dentro, e outra que olhava para fora.
César achava que o mês, nomeado segundo esse deus (“Janeiro”), seria a “porta”
apropriada para o ano. César celebrou o primeiro Ano Novo de primeiro de janeiro
ordenando o destroçar das forças revolucionárias judaicas na Galiléia. Testemunhas
oculares dizem que o sangue jorrou nas ruas. Nos anos seguintes, os pagãos romanos
observavam o Ano Novo praticando orgias e bebedeira - um ritual que eles criam
constituir uma representação do mundo caótico que existia antes do cosmos ter sido
ordenado pelos deuses.”
" A brutalidade continuou também na idade média, durante o reinado da Igreja
Romana, e seu característico antissemitismo. A data do Ano Novo ficou marcada por ser
uma data especialmente anti-judaica:
" “No dia de Ano Novo de 1557, o papa Gregorio XIII decretou que todos os judeus
romanos, sob pena de morte, deveriam ouvir atentamente ao sermão de conversão
católica dado nas sinagogas romanas depois dos serviços de sexta à noite. No dia de Ano
Novo de 1578, Gregorio assinou uma lei estabelecendo uma taxa para os judeus de
forma a sustentar uma ʻCasa de Conversãoʼ para converter judeus ao Cristianismo. No
Ano Novo de 1581, Gregorio ordenou que suas tropas confiscassem toda a literatura
sagrada da comunidade judaica romana. Milhares de judeus foram mortos na incursão.
" Ao longo dos períodos medieval e pós-medieval, primeiro de janeiro -
supostamente o dia em que Jesus teria sido circuncidado, iniciou o reino do Cristianismo
e a morte do Judaísmo, e era reservado para atividades anti-judaicas: a queima de
sinagogas e livros, torturas públicas, além simplesmente de assassinatos.” (ibid)
" A data anterior ao Ano Novo também marca o dia de um santo católico,
responsável por mais brutalidade, e até hoje é conhecido como “Dia de São Silvestre” -
que, no Brasil, também dá nome à famosa maratona. Sobre isso, o artigo continua e
afirma:
" “O termo israelita para as celebrações da noite de Ano Novo, “Silvestre”, era o
nome do “santo” e papa romano que reinou durante o Concílio de Nicéia (325 DC.) No
ano antes do Concílio de Nicéia ser convocado, Silvestre convenceu Constantino a proibir
os judeus de morarem em Jerusalém. No Concílio de Nicéia, Silvestre assegurou a
passagem de uma miríade de leis viciosamente antissemitas. A todos os ʻsantosʼ católicos
é assegurado um dia no qual os cristãos celebram e pagam tributo à memória do santo. O
dia 31 de dezembro é o Dia de São Silvestre - e assim as celebrações na noite de 31 de
dezembro são dedicadas à memória de Silvestre.” (ibid)
VII - Conclusão
" Abaixo um resumo do que se viu acerca desta festa:
✓ Sua origem encontra-se nas festividades pagãs de inverno do império romano.
✓ No século 1 AC, Julio César adotou o Ano Novo como forma de honrar ao deus
Janus.
✓ A Igreja Romana posteriormente transformou uma festa de orgia pagã numa
celebração do Jesus romano.
✓ Essa celebração da Igreja Romana tinha como característica principal marcar a
morte do Judaísmo e o início da religião cristã.
✓ Desde o seu primórdio, e ao longo dos séculos, a data foi utilizada para cometer
verdadeiras atrocidades contra a Casa de Yehudá (Judá.)
" Em suma, trata-se de uma festa cuja origem está no sincretismo com o paganismo
religioso, e que historicamente era utilizada para comemorar, regada a muito sangue
judeu, a hegemonia de uma falsa religião e de seu ídolo substituto de Yahushua, o
verdadeiro Mashiach (Messias) das Escrituras.
" Por todas essas razões, nós israelitas do caminho devemos nos abster de tais
práticas. O participar de tais celebrações seria um ato de traição não apenas para com a
Torá de Elohim, como também para com o próprio povo de Israel.
Besteiras e outras besteiras
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